Eleições
No dia 28 de Outubro de 1973 realizaram-se as últimas eleições da ditadura portuguesa. Acantonados à beira do campo de concentração civil que era Quiximba, nunca me passou pela cabeça que iríamos ser apanhados pela farsa. Mas fomos.
Como era costume, os partidos da oposição desistiram da eleição, por falta de condições democráticas, sendo apresentada aos portugueses uma lista única, do partido do costume.
Militares não votavam, e a população civil de Quiximba, afecta aos guerrilheiros, também não seria grande suporte para a União Nacional, pelo que, pensava que em Quiximba, não se iria sequer ouvir falar de eleições.
Estava enganado, e muito surpreendido fiquei quando vi, na porta da cubata ao lado do administrador de posto, um cartaz eleitoral.
Foi o único sinal, até que o administrador de posto foi ao quartel pedir que um oficial participasse da mesa de voto, para "lhe dar solenidade".
Toda a gente arranjou que fazer, e se baldou, sobejando como era inevitável, para o alferes mais moderno - eu.
Já não podia inventar servço externo, porque o quartel não podia ficar sem comando, e não queria mesmo alinhar na palhaçada. Como fazer?
Ai, as obrigações de serviço...
- Oh senhor administrador, não há possibilidade nenhuma - como o senhor sabe todos os outros oficiais estão fora, o que me impede de me ausentar do quartel, mesmo que para perto e por pouco tempo.
Aceitou, e as eleições não tiveram a tal solenidade dum oficial presente. Para a história ficou a vitória da União Nacional por 6-0. Numa aldeia com mais de 2000 habitantes, temos: O voto do administrador, o do cantineiro, o dos dois cipaios e... quem diabo lá pôs os outros dois? Contado por Avelino Lopes |