São Martinho
Só quem vive muito tempo debaixo de uma férrea disciplina consegue entender o prazer de uma transgressão.
Por mais consciente e responsável que se seja, às vezes... não dá para resisitir.
Estávamos em Zau Évoa, longe de tudo, sem nada que fazer, além de comer, beber, dormir e jogar à bola.
A guerra andava por longe, a caça era um passatempo periódico, e a rotina de lazer só era interrompida muito raramente, para alguma actividade operacional.
Por mais consciente e responsável que se seja, às vezes... não dá para resisitir.
Estávamos em Zau Évoa, longe de tudo, sem nada que fazer, além de comer, beber, dormir e jogar à bola.
A guerra andava por longe, a caça era um passatempo periódico, e a rotina de lazer só era interrompida muito raramente, para alguma actividade operacional.
A sensação de abandono, privação e inutilidade era permanente.
A passagem do MVL duas vezes pro semana, e o reabastecimento aéreo, nos mesmos dias, eram a única quebra na monotonia, e as únicas oportunidades de contacto exterior.
O piloto do reabastecimento era um civil simpático, com quem conversávamos uns minutos. Numa dessas conversas falámos dos preços que ele cobrava, e que, descobrimos, ficavam muito abaixo do que suspeitávamos (e por isso o Exército o usava tão regularmente). Por exemplo, uma viagem a Luanda não custaria muito mais de 500$00 (sim, dois euros e meio, para quem já não aprendeu o que eram escudos).
Quando, tempos mais tarde, aproximando-se o São Martinho, desabafei que gostaria de estar em Luanda, para comer umas castanhas, alguns disseram: "Vamos!"
Contas feitas, o Cessna levava quatro (cento e trinta escudos cada) dois dias em Luanda passariam despercebidos, era... convidativo. Os riscos eram grandes, e se fôssemos descobertos as consequências pesadíssimas, mas... apetecia tanto!
Fomos!
Vestidos à civil lá entrámos no Cessna, mas assustámo-nos quando, um a um, o piloto nos perguntou. "Quanto é que pesas?"
A passagem do MVL duas vezes pro semana, e o reabastecimento aéreo, nos mesmos dias, eram a única quebra na monotonia, e as únicas oportunidades de contacto exterior.
O piloto do reabastecimento era um civil simpático, com quem conversávamos uns minutos. Numa dessas conversas falámos dos preços que ele cobrava, e que, descobrimos, ficavam muito abaixo do que suspeitávamos (e por isso o Exército o usava tão regularmente). Por exemplo, uma viagem a Luanda não custaria muito mais de 500$00 (sim, dois euros e meio, para quem já não aprendeu o que eram escudos).
Quando, tempos mais tarde, aproximando-se o São Martinho, desabafei que gostaria de estar em Luanda, para comer umas castanhas, alguns disseram: "Vamos!"
Contas feitas, o Cessna levava quatro (cento e trinta escudos cada) dois dias em Luanda passariam despercebidos, era... convidativo. Os riscos eram grandes, e se fôssemos descobertos as consequências pesadíssimas, mas... apetecia tanto!
Fomos!
Vestidos à civil lá entrámos no Cessna, mas assustámo-nos quando, um a um, o piloto nos perguntou. "Quanto é que pesas?"
Ao fundo da pista havia uma fila de árvores, e a garantia de conseguir passar-lhes por cima exigia contas rigorosas sobre o peso total. Dava!
Deu! Os dois dias em Luanda passaram depressa e souberam a pouco. No regresso não houve problemas, mas, acreditam se vos disser que só depois de voltar, e acalmar, nas conversas que se seguiram, nos demos conta da falha num importantíssimo pormenor? Ninguém tinha comido castanhas! Contado por Avelino Lopes |