Nas remotas e inacessíveis encostas das serras Vamba, Ambuíla e outras, uma indústria rivalizava com a dominante actividade de produção de café - a extracção de madeiras.
O café era produzido em plantações, processado em unidades industriais rudimentares integradas nas fazendas, e esse modo de produção, circunscrito a áreas definidas, de fácil acesso e vigilância, facilitou a instalação da estrutura militar, que, por sua vez, garantia a segurança mínima da actividade.
O café era produzido em plantações, processado em unidades industriais rudimentares integradas nas fazendas, e esse modo de produção, circunscrito a áreas definidas, de fácil acesso e vigilância, facilitou a instalação da estrutura militar, que, por sua vez, garantia a segurança mínima da actividade.
A extracção de madeiras era bem diferente. Os madeireiros procuravam no mato, a produção natural, seleccionando as árvores mais vantajosas para abate, que depois eram transportadas para local seguro, onde decorriam os subsequentes trabalhos.
Procurar madeira era entrar pela floresta, o que se chocava com o pretendido isolamento dos guerrilheiros que viam assim, os seus refúgios serem sistematicamente ameaçados pelo avanço dos madeireiros, que apoiados pela tropa, abriam picadas e debastavam florestas, encurralando-os.
Não espanta, por isso, que os madeireiros fossem alvo privilegiado e fácil das suas investidas.
A partir de Santa Isabel, os madeireiros progrediam para noroeste, mato adentro, e chegaram a uma distância tal que implicou a criação de mais um ponto de apoio seguro.
Foi então construída no topo de uma colina a cerca de 10 km da fazenda, uma base táctica - um precário aglomerado de barracas de madeira, rodeado por arame farpado, onde se alojava o pessoal de trabalho na madeira, e um grupo de combate que a companhia de Santa Isabel passou a ter que destacar para o local.
Procurar madeira era entrar pela floresta, o que se chocava com o pretendido isolamento dos guerrilheiros que viam assim, os seus refúgios serem sistematicamente ameaçados pelo avanço dos madeireiros, que apoiados pela tropa, abriam picadas e debastavam florestas, encurralando-os.
Não espanta, por isso, que os madeireiros fossem alvo privilegiado e fácil das suas investidas.
A partir de Santa Isabel, os madeireiros progrediam para noroeste, mato adentro, e chegaram a uma distância tal que implicou a criação de mais um ponto de apoio seguro.
Foi então construída no topo de uma colina a cerca de 10 km da fazenda, uma base táctica - um precário aglomerado de barracas de madeira, rodeado por arame farpado, onde se alojava o pessoal de trabalho na madeira, e um grupo de combate que a companhia de Santa Isabel passou a ter que destacar para o local.
Diariamente, o grupo de trabalhadores saía para ocidente, encurtando cada vez mais as distâncias para o que a Pide referenciava como a central do Mungage, que albergaria cerca de 5000 pessoas. Esse avanço era acompanhado por uma secção de militares, enquanto os restantes permaneciam de guarda à base táctica.
Poucos dias depois da chegada da nossa companhia aconteceu o inevitável ataque. Uma mina, na extremidade da picada que avançava, fez saltar o Land-Rover dos madeireiros, ferindo gravemente dois civis, que puseram todo o pessoal de enfermagem da unidade e da fazenda a lutar tenazmente para os salvar, conseguindo evacuá-los com vida. À explosão da mina seguiu-se breve troca de tiros, a única que a nossa companhia viria a enfrentar até ao fim da comissão. |
Era convicção generalizada de que, à chegada, todas as unidades de "maçaricos" eram testadas, para ver a sua capacidade de resposta. Se foi essa a intenção, então os atacantes não terão levados boas notícias, porque a resposta do nosso pessoal foi rápida e sólida. Há até uma descrição, talvez algo lendária, duma reacção do cabo Duarte, que terá apanhado uma granada por eles enviada com cavilha, pelo que não explodiu, e que ao agarrá-la terá gritado:
- Esta já cá canta, podem mandar mais.
Digo "lendária" porque não acompanhei os acontecimentos (cheguei semanas depois) e porque, a ser verdade, a granada teria que ser registada como capturada, o que poderia valer-nos um alfinetezinho no tenebroso mas para nós vazio mapa no quartel-general de Luanda.
Depois desse incidente, o corte de árvores foi suspenso, os madeireiros foram-se embora, e a base transformou-se num enfadonho
poiso remoto donde se lançavam surtidas na direcção do inimigo, que, às vezes se avistava a cultivar a encosta fronteira.
- Esta já cá canta, podem mandar mais.
Digo "lendária" porque não acompanhei os acontecimentos (cheguei semanas depois) e porque, a ser verdade, a granada teria que ser registada como capturada, o que poderia valer-nos um alfinetezinho no tenebroso mas para nós vazio mapa no quartel-general de Luanda.
Depois desse incidente, o corte de árvores foi suspenso, os madeireiros foram-se embora, e a base transformou-se num enfadonho
poiso remoto donde se lançavam surtidas na direcção do inimigo, que, às vezes se avistava a cultivar a encosta fronteira.
Quem sofria com esse avistamento era o comandante do batalhão que não entendia como as lamacentas e densamentes arborizadas encostas íngremes da serra Vamba nos impediam de lá chegar num dia inteiro de marcha e que, na única visita que me lembro de o ver fazer à base, avistou ele próprio uma camisa branca na encosta.
Percebeu, então, porque é que nós lhe dizíamos que, com um morteiro 81, poderíamos "chatear", coisa que o nosso mísero morteiro 60 não permitia. Não foi um morteiro 81, mas ainda mais feroz. Dias depois chegou uma unidade de artilharia, com 3 peças, que se instalou, e à noite, lançou uma violenta salva de 180 obuses, martelar que viria a repetir nos dias seguintes, com uma aeronave a sobrevoar o local e a orientar o tiro. |
Foi o episódio mais negro da nossa presença em África, e, embora desconheçamos as consequências dessa acção, a referência da "rádio turra" aos "assassinos de Santa Isabel", não se nos colando, na realidade, não deixa de ser sintomática e triste.
Foi, por tudo isso, sem saudades que abandonámos o local, e ao contrário de outras paranças, é sem saudades que imaginamos o seu desaparecimento da Angola de hoje.
por Avelino Lopes
Foi, por tudo isso, sem saudades que abandonámos o local, e ao contrário de outras paranças, é sem saudades que imaginamos o seu desaparecimento da Angola de hoje.
por Avelino Lopes