O Teixeira
O Teixeira era um resistente - antigo caçador, adaptou à guerra o seu domínio sobre o território circundante de Tomboco, onde residia, trabalhando como guia.
Coxeando bastante, como resultado de um tiro num pé anos atrás, o Teixeira era incansável, arrastando atrás dele uma tropa por vezes exausta, com um incentivo sempre repetido:
- É já ali!
O "ali" ara um coqueiro, no horizonte, uma palmeira, qualquer coisa que se destacasse na paisagem. Lá marchávamos, lá chegávamos ao coqueiro, para o Teixeira repetir:
- É já ali.
Horas a fio, da palmeira para o imbondeiro, do imbondeiro para o maciço de árvores junto a um regato, e daí para outro coqueiro, e o Teixeira sempre seguro:
- É já ali.
A alma de caçador nunca o abandonava, e em todas as operações de vários dias havia sempre caça a substituir as latas da ração de combate. A confiança na capacidade do Teixeira era tanta que muitos soldados distribuíam entre a miudagem da sanzala as respectivas rações, seguindo para o mato apenas com o indispensável, e algum risco de... fome.
- Ali há pacaça!
O "ali" era um vale cem ou duzentos metros distante, para onde avançávamos em silêncio, e onde, minutos depois aparecia o animal (vim a perceber que o Teixeira controlava o voo de uma ave branca que se alimenta dos parasitas da pacaça - ao vê-la poisar fica localizado o animal).
Mas houve percalços:
Uma vez apareceu bruscamente um elefante, com o Teixeira a disparar imediatamente, ferindo sem matar - o elefante urrou, deu meia volta (felizmente) e foi-se embora.
Doutra vez o Teixeira feriu uma pacaça que fugiu. Seguimo-la com os indispensáveis cuidados para prevenir um ataque (a célebre "volta da pacaça"), quando o Teixeira volta a disparar sem matar, mas com uma agravante - era uma pacaça preta, enquanto a outra era castanha.
Duas pacaças feridas era risco redobrado, pelo que formámos em V, de dedo no gatilho, e enquanto nos não sentimos suficientemente longe não descansámos.
Mas, um dia, o irredutível Teixeira quebrou:
Iniciámos a operação no asfalto que ligava Tomboco a Ambrizete, e, ao fim de cerca de dois quilómetros a andar no asfalto, o Teixeira praguejou, deitou fora a arma, sentou-se no chão e descalçou uma bota - uma bolha.
E agora? Como convencê-lo a prosseguir?
- Teixeira! O fim do alcatrão... é já ali.
(Narrativa de Avelino Lopes)
Coxeando bastante, como resultado de um tiro num pé anos atrás, o Teixeira era incansável, arrastando atrás dele uma tropa por vezes exausta, com um incentivo sempre repetido:
- É já ali!
O "ali" ara um coqueiro, no horizonte, uma palmeira, qualquer coisa que se destacasse na paisagem. Lá marchávamos, lá chegávamos ao coqueiro, para o Teixeira repetir:
- É já ali.
Horas a fio, da palmeira para o imbondeiro, do imbondeiro para o maciço de árvores junto a um regato, e daí para outro coqueiro, e o Teixeira sempre seguro:
- É já ali.
A alma de caçador nunca o abandonava, e em todas as operações de vários dias havia sempre caça a substituir as latas da ração de combate. A confiança na capacidade do Teixeira era tanta que muitos soldados distribuíam entre a miudagem da sanzala as respectivas rações, seguindo para o mato apenas com o indispensável, e algum risco de... fome.
- Ali há pacaça!
O "ali" era um vale cem ou duzentos metros distante, para onde avançávamos em silêncio, e onde, minutos depois aparecia o animal (vim a perceber que o Teixeira controlava o voo de uma ave branca que se alimenta dos parasitas da pacaça - ao vê-la poisar fica localizado o animal).
Mas houve percalços:
Uma vez apareceu bruscamente um elefante, com o Teixeira a disparar imediatamente, ferindo sem matar - o elefante urrou, deu meia volta (felizmente) e foi-se embora.
Doutra vez o Teixeira feriu uma pacaça que fugiu. Seguimo-la com os indispensáveis cuidados para prevenir um ataque (a célebre "volta da pacaça"), quando o Teixeira volta a disparar sem matar, mas com uma agravante - era uma pacaça preta, enquanto a outra era castanha.
Duas pacaças feridas era risco redobrado, pelo que formámos em V, de dedo no gatilho, e enquanto nos não sentimos suficientemente longe não descansámos.
Mas, um dia, o irredutível Teixeira quebrou:
Iniciámos a operação no asfalto que ligava Tomboco a Ambrizete, e, ao fim de cerca de dois quilómetros a andar no asfalto, o Teixeira praguejou, deitou fora a arma, sentou-se no chão e descalçou uma bota - uma bolha.
E agora? Como convencê-lo a prosseguir?
- Teixeira! O fim do alcatrão... é já ali.
(Narrativa de Avelino Lopes)