Ressaca
Na guerra bebia-se muito. O isolamento, as limitações dos contactos, o stress, eram factores que promoviam o álcool e o tabaco como presenças permanentes.
Naturalmente que os excessos eram fonte de risadas entre os espectadores, e de algumas dores de cabeça entre os actores.
Havia uma bebida local, chamada marufo (malau noutros locais), com um cheiro execrável e um sabor ainda pior, que era proibida, mas que clandestinamente, a população nativa consumia.
Um dia, íamos para Zau Évoa e demos boleia a dois nativos que se dirigiam para as lavras, a cerca de dois quilómetros da sanzala. Ao subirem para a viatura não conseguiram esconder a garrafa de marufo, pelo que o capitão os advertiu:
- "Quero isso despejado antes de se apearem".
- "Si, siô, nosse captão."
Deixámos de lhes dar atenção, e quando chegámos às lavras um deles levantava sorridente, a garrafa vazia, para o capitão ver que tinham cumprido as ordens. O problema é que só conseguia levantar a garrafa, o corpo de ambos, recusava-se, e tiveram que ser descarregados. Ninguém perdeu tempo a perguntar para onde tinham despejado o marufo.
Mas, em Zau Évoa aconteceu uma coisa esquisita: Alguns soldados do recrutamento local saíam do quartel para uma pequena mata adjacente, onde não havia nada nem ninguém, e voltavam... alegres. Um dia resolvemos segui-los discretamente a descobrimos que tinham deitado abaixo uma palmeira jovem, onde tinham feito uma cavidade com um pequeno furo por baixo. Por baixo do furo, um garrafão recolhia a seiva que ia escorrendo e fermentando. Em cada visita bebiam a recolha do dia anterior, e com a catana raspavam as paredes da cavidade, para evitar a cicatrização e manter a seiva a correr. Tudo era depois tapado para esconder, das moscas, das abelhas, e... pois...
Mas a cena mais divertida passou-se numa operação de seis dias com o grupo do alferes Leitão, do Tomboco.
Viajámos para lá de véspera, para sair de madrugada do Tomboco, e, durante a noite de convívio que lá passámos... bebeu-se, naturalmente.
De manhã, preparámos a partida, e, tudo pronto, faltava... o comandante. O alferes Leitão, que se tinha encharcado bem à noite, não aparecia.
Naturalmente que os excessos eram fonte de risadas entre os espectadores, e de algumas dores de cabeça entre os actores.
Havia uma bebida local, chamada marufo (malau noutros locais), com um cheiro execrável e um sabor ainda pior, que era proibida, mas que clandestinamente, a população nativa consumia.
Um dia, íamos para Zau Évoa e demos boleia a dois nativos que se dirigiam para as lavras, a cerca de dois quilómetros da sanzala. Ao subirem para a viatura não conseguiram esconder a garrafa de marufo, pelo que o capitão os advertiu:
- "Quero isso despejado antes de se apearem".
- "Si, siô, nosse captão."
Deixámos de lhes dar atenção, e quando chegámos às lavras um deles levantava sorridente, a garrafa vazia, para o capitão ver que tinham cumprido as ordens. O problema é que só conseguia levantar a garrafa, o corpo de ambos, recusava-se, e tiveram que ser descarregados. Ninguém perdeu tempo a perguntar para onde tinham despejado o marufo.
Mas, em Zau Évoa aconteceu uma coisa esquisita: Alguns soldados do recrutamento local saíam do quartel para uma pequena mata adjacente, onde não havia nada nem ninguém, e voltavam... alegres. Um dia resolvemos segui-los discretamente a descobrimos que tinham deitado abaixo uma palmeira jovem, onde tinham feito uma cavidade com um pequeno furo por baixo. Por baixo do furo, um garrafão recolhia a seiva que ia escorrendo e fermentando. Em cada visita bebiam a recolha do dia anterior, e com a catana raspavam as paredes da cavidade, para evitar a cicatrização e manter a seiva a correr. Tudo era depois tapado para esconder, das moscas, das abelhas, e... pois...
Mas a cena mais divertida passou-se numa operação de seis dias com o grupo do alferes Leitão, do Tomboco.
Viajámos para lá de véspera, para sair de madrugada do Tomboco, e, durante a noite de convívio que lá passámos... bebeu-se, naturalmente.
De manhã, preparámos a partida, e, tudo pronto, faltava... o comandante. O alferes Leitão, que se tinha encharcado bem à noite, não aparecia.
Fui ao quarto dele, e reparei que a cama já estava feita, mas ele não estava lá. Na messe também não. Avisei o pessoal da messe e fomos à procura, acabando por encontrá-lo a dormir no chão, no corredor entre a messe e o quarto. A "carga" não dera para chegar ao quarto, daí a cama feita. Tratámos de o acordar, mas... nada feito.
Deixá-lo para trás, acarretar-lhe-ia sérios problemas disciplinares; atrasar a operação significaria problemas também para mim, o outro oficial da operação. A solução foi... levá-lo a dormir. Vestimo-lo, levámo-lo para a viatura com o equipamento necessário, e destaquei um soldado para o amparar na viagem. |
Chegados ao local determinado descarregámos tudo, montámos o acampamento e instalámo-lo na tenda destinada aos graduados.
Foi só a meio da tarde que acordou, bem ressacado, levando uma eternidade a perceber onde estava, como e porquê, mas como o hotel tinha todas as comodidades, com ar condicionado e vista para o mato, rapidamente recuperou. Bem... recuperou, pronto!
(Narrativa de Avelino Lopes)
Foi só a meio da tarde que acordou, bem ressacado, levando uma eternidade a perceber onde estava, como e porquê, mas como o hotel tinha todas as comodidades, com ar condicionado e vista para o mato, rapidamente recuperou. Bem... recuperou, pronto!
(Narrativa de Avelino Lopes)