O armário
Passou-se em Luanda, ainda antes de viajar ao encontro da Companhia, pelo que, não diz propriamente respeito à ViveVence, mas o insólito e a piada da cena "obrigam-me" a contá-la.
Estava em Luanda há três dias, na messe de oficiais, quando, no final do almoço assisti a uma conversa em que um aspirante de carros de combate, cuspindo gafanhotos por todo o lado, tal o entusiasmo, relatava as suas aventuras da véspera. Era mais ou menos assim:
Estava em Luanda há três dias, na messe de oficiais, quando, no final do almoço assisti a uma conversa em que um aspirante de carros de combate, cuspindo gafanhotos por todo o lado, tal o entusiasmo, relatava as suas aventuras da véspera. Era mais ou menos assim:
- Oh pá, a gente estava ali, a querer entrar, e o manguelas armado em herói a impedir-nos... Eu entrei no Tamar sempre que quis, quem era um porteiro para "tar" ali com fitas, a gozar com a maralha e a ver se mamava umas gorjas... Aquilo já "távamos" a arregaçar as mangas quando pára um jeep dos Comandos, salta de lá um alferes de camuflado, daqueles tipo armário de 2 por 2, mete o peito ao gajo e entra por ali dentro, com a maralha toda atrás... o gajo deve ter ido enfiar-se atrás do bar ou debaixo das saias da mãe, que o alferes comando nem para ele olhou...
E, de repente, tive um baque!
O alferes 2 por 2 em camuflado que "atropelou" o porteiro...era EU! Agora a história, como na verdade se passou: Sem ter nada que fazer em Luanda, enquanto aguardava o transporte para o norte, um amigo capitão dos Comandos (não o que me pôs a guiar em cima do passeio, que ainda não tinha chegado) desafiou-me a ir beber um copo ao Grafanil onde estava de oficial de dia. Como não tinha transporte, e não conhecia minimamente Luanda, ele ficou de mandar um jeep recolher-me. Para isso, tinha que me fardar (farda numero dois e não camuflado) e foi o que fiz. No jeep, para além do condutor, vinha um sargento que ia arranjar um esquentador e tinha um recado para o tenente Matos, que eu tinha acabado de conhecer na messe, e que sabia que tinha ido ao cabaret. Lá fomos, parámos à porta, onde havia o habitual ajuntamento a que nem ligámos, e perguntei ao porteiro se lá estava o tenente Matos, para lhe dar o recado. O porteiro não conhecia, pelo que me disse que entrasse e fosse ver. Foi o que fiz, dei o recado, e saí serenamente, para continuar o programa, sem me aperceber de nada de anormal. |
A única coisa em que o rapaz não exagerou foi nas minhas dimensões: 2 por 2 é pouco, estou mais perto dos 3 por 2,5 (com unhas e cabelo cortados...)
(Narrativa de Avelino Lopes)
(Narrativa de Avelino Lopes)