O acorrentado
Um dos momentos mais tensos na companhia, e que ainda hoje provoca "ondas de choque", viveu-se com... o Rei.
O Rei era um motorista muito mexido, sempre situando-se na fronteira entre a irreverência e a indisciplina, mas com uma constante nota de humor e bonomia que desarmavam quem precisasse de lhe fazer frente.
Um dia, o capitão perdeu mesmo a cabeça, e mandou acorrentá-lo a uma palmeira na parada.
Ninguém estava preparado para uma coisa daquelas, e as interpretações contraditórias sucederam-se, desde os que consideravam aquilo "uma graça" sem graça do capitão, para evitar males disciplinares maiores, aos que entendiam o incidente como uma humilhação atroz, intolerável numa unidade militar civilizada.
O ambiente agitou-se, a discussão instalou-se, a tensão cresceu, e no meio da confusão o Ferrer veio alertar-me: "O alferes Monteiro dos Santos foi a correr para a messe". E lá fui também a correr para a messe...
Quando ia a entrar vinha já o Monteiro dos Santos a sair, de pistola em punho, pelo que o parei, e aconselhei a ir guardar a pistola, para tentarmos resover a coisa a bem.
Não foi fácil, mas o capitão acabou por aceitar e libertar o Rei, pondo termo a uma situação que levou a companhia muito perto da... "guerra civil".
Contado por Avelino Lopes